Refutação: ofensiva e defensiva

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Camila Favaretto

4 de maio de 2025

Argumentação
Refutação

Refutar um caso é muito mais do que dar algumas respostas para os argumentos alheios. A refutação parte do entendimento primordial do objetivo pretendido: desde a mera comparatividade entre casos, até a plena destruição da premissa da outra bancada. Para isso, há uma pergunta fundamental que deve ser feita: o que esta refutação está fazendo com o caso alheio?

Mais do que isso, a refutação não deve ser tratada como uma simples obrigação dentro do debate, mas sim, uma habilidade que pode (e deve) ser utilizada em diversos momentos, seja no próprio tempo de preparação, na construção argumentativa, na reconstrução de caso ou na refutação propriamente dita.

Tipos de refutação:

As refutações possuem objetivos táticos diferentes dentro do discurso, podendo se dividir em duas categorias: refutação ofensiva e refutação defensiva.

Refutação ofensiva

Visa derrotar os argumentos construídos pela bancada oposta ou o resultado pretendido, subdividindo-se em:

  • Refutação pura: mostrar que o argumento feito por outra equipe está incorreto, ou seja, ataca-se a premissa alegada pela equipe, a lógica que os leva a um resultado ou, então, desafia-se se esse resultado é bom, ruim ou de fato importante no debate.
  • Refutação concorrente: não ataca diretamente o argumento, mas busca demonstrar que o resultado pretendido por outra dupla é passível de ser alcançado por outro caminho também, sendo este caminho exclusivo do seu próprio lado da casa.

Para fins de elucidação, vejamos um exemplo:

Moção: Ec legalizaria todas as drogas

1° Governo: devemos legalizar, pois o mercado clandestino de drogas costuma ser muito pior do que o mercado tradicional, tendo em vista que não é regulamentado pelo governo e os vendedores têm um incentivo para maximizar o lucro, o que faz com que as substâncias sejam vendidas sem padrão de controle químico (como por exemplo, contendo mais aditivos ruins para a saúde humana), etc… O fato da qualidade do produto ser relevante é em razão de, quanto pior a qualidade, mais afetada é a saúde do consumidor.

Utilizando da refutação pura, diríamos: A qualidade do produto não é afetada em razão disso, uma vez que mesmo no mercado clandestino ainda é necessário manter qualidade do produto para continuar vendendo por preços mais altos e conquistando clientes, o que faz com que a saúde não tenha tantos prejuízos assim.

Aqui, você está atacando diretamente a construção da premissa “qualidade do produto é afetada (premissa) e, portanto, prejudica a saúde (impacto)”. Ao desmantelar a premissa, o impacto também não se satisfaz.

Utilizando da refutação concorrente, por sua vez, diríamos: ambos se importam com a saúde e o bem-estar de potenciais usuários, mas agora, no cenário em que eu tenho uma ampla disponibilidade, é muito mais fácil adquirir e consumir drogas, o que faz com que a saúde de um número maior de pessoas seja afetada.

Neste momento, você não está derrubando a premissa central e dizendo “veja bem, não acontece da qualidade diminuir”, mas sim, tão somente está dizendo “você se importa com a saúde? ela é muito mais prejudicada quando eu legalizo, por isso não deveria legalizar”, havendo uma disputa de impactos.

DICA:

Tenha sempre em mente as seguintes perguntas:

Por que o argumento trazido por eles NÃO acontece? Aqui, você está negando o argumento e buscando quebrar a lógica de funcionamento dele.

Por que, MESMO ACONTECENDO, é possível contornar / vale a pena / não traz os impactos pretendidos.

Refutação defensiva

Trata-se de quando você está reconstruindo seus próprios argumentos e tornando seu caso mais robusto e resiliente às refutações.

Durante o debate, os argumentos de sua dupla também receberão refutações. Isso significa que é preciso prestar atenção naquilo que está sendo dito sobre o seu caso e buscar reconstruí-lo.

Em termos mais simples, seria “refutar a refutação”.

Garantir que você provou o seu argumento e alcançou o impacto pretendido é fundamental, porque se a maioria dos seus argumentos forem derrotados, então o seu caso está fragilizado, fazendo com que as chances de vencer o debate diminuam consideravelmente. É mais fácil provar que ganhou quando você deixa os ganhos do seu caso bem comprovados

Nesse sentido, ouvir e entender qual está sendo a refutação feita para o seu caso é muito importante para que você possa lidar com os problemas apontados e buscar reestruturar o seu caso.

Exemplos:

A refutação que foi dada pro caso de vocês é um sopesamento de relevância? Se eles estão dizendo que o deles é mais relevante, você precisa ressaltar por que o seu caso é mais.

Você, em primeiro governo, faz um caso comprovando como possui mais eficiência na resolução do problema pretendido pela moção. Primeira oposição, por sua vez, responde isso apontando que você precisa de engajamento para alcançar a eficiência e você não consegue esse engajamento pelos motivos X, Y, Z.

Com esse cenário, o adjunto de governo tem a necessidade de reconstruir o caso dando incentivos pelos quais ainda conseguem ter esse engajamento de forma produtiva, dando uma espécie de contra-resposta para aquilo que foi dito pela oposição.

Com isso posto, a importância da refutação fica evidente quando percebemos que para vencer um debate você precisa demonstrar que o seu caso é melhor (mais relevante, melhor construído, maior impacto, etc…), bem como ser capaz de mitigar o caso da bancada oposta, fazendo com que comparativamente seu caso se sobressaia.