Moções de Agente: como identificar seus interesses e modo de atuação

Manoela Caldeira
4 de maio de 2025
As moções de agente são aquelas em que os debatedores devem preparar a sua argumentação tendo em vista a perspectiva de algo ou alguém específico, podendo ser este uma pessoa ou órgão, indivíduo ou coletivo. Para defender quais seriam os desejos desse agente, é necessário buscar entender por qual motivo esses desejos são criados, qual o incentivo existente para agir, o que o agente está disposto a fazer para alcançar o objetivo fim, quais irracionalidades o influenciam e qual o locus de poder dele.
Vejamos:
Comportamento do agente
Quando se trata de agentes, há uma pergunta fundamental que deve ser feita: por que os atores da moção irão se comportar dessa maneira ou o que ganham com isso?
O que o ator deseja?
mesmo que você não saiba muito sobre o ator, sempre pode inferir algumas características básicas, por exemplo: Países podem almejar a independência e por isso buscar ações que os afastem da dependência de outros países. Podem almejar o desenvolvimento econômico, mais do que o social, não estarem dispostos a se envolver em guerras, entre outros.
Humanos, por sua vez, possuem uma hierarquia de desejos diferente. Podem buscar felicidade, afastamento da pobreza, precisar que suas necessidades básicas sejam satisfeitas ou já ter conquistado a estabilidade quanto às necessidades básicas e agora almejar maior ganho econômico.
É importante ter em mente que o agente da moção pode desejar diferentes conquistas, mas elas são pautadas por uma hierarquia de prioridade. Portanto, é necessário definir qual seria a sua prioridade e por quais motivos o agente quer uma coisa mais do que outra.
Até que ponto o ator está disposto a ir para obter o seu desejo?
Um agente pode desejar muito algo, porém, sempre irá enfrentar barreiras para tanto. Mais do que isso, há certos limites que o ator da moção não necessariamente está disposto a cruzar para obter a sua conquista. Assim, é necessário racionalizar a relação de custo-benefício entre o desejo e as consequências trazidas com ele.
Em um exemplo extremo: imagine que você faz parte de um grupo marginalizado que não tem seus direitos garantidos e, a partir de amanhã você tem a chance de melhorar de vida com todos os benefícios garantidos. Entretanto, para isso, terá que realizar um sacrifício: abandonar sua família ou abdicar da sua autonomia em todas as suas escolhas pessoais. Este é um exemplo na qual o custo-benefício possivelmente não compensaria mesmo que o agente desejasse muito, visto que em uma hierarquia de desejos, as pessoas possuem preferência por deixarem de ser desprivilegiadas, entretanto, possuem uma preferência maior em manter contato com a sua família ou manter a sua autonomia.
Contudo, outros agentes podem estar dispostos a ir muito longe e cruzar mais linhas para conquistar o que desejam, por isso, é necessário analisar se (1) o agente possui algum limite de ação? (2) quais são esses limites? (3) esses limites levam em consideração e são relevantes para o agente por qual motivo?
Quais irracionalidades influenciam o ator?
É importante salientar que as pessoas não fazem somente escolhas racionais baseadas em suas crenças, vivências, valores ou com uma análise fria das consequências possíveis, mas sim, também realizam escolhas irracionais. Em dadas tomadas de decisão, mesmo que apresentadas opções racionais de ações, quem toma a decisão de fato são as emoções.
E moções são, por definição, irracionais. Se o sujeito está particularmente afetado por alguma emoção, isso afetará o seu cálculo de tomada de decisão. Por esse motivo é necessário se perguntar: “esse ator, sob essas condições, possui a tendência de realizar alguma ação que não seria tomada por pessoas em uma situação normal?”.
Poder do agente
Os atores possuem interesses, motivações e objetivos que querem alcançar. Entretanto, a análise de locus de poder é o que define se o agente irá conseguir ou não o que desejam a depender do seu poder de ação e influência. Algum agente possui poder e influência suficiente para realmente conseguir tudo o que deseja? Assim, você deve observar quem tem o poder e qual face do poder ele corresponde:
Poder coercitivo
É quando determinado agente possui poder o suficiente para garantir que outro ator realize alguma atividade mesmo que não queira. Esta coação pode ser por meio de punição, dinheiro, coerção física, entre outros. Um dos exemplos disso é o monopólio do uso da força pelo Estado. É muito difícil resistir ao poder do Estado, pois, comparativamente, você possui poder menor. Logo, ao analisar ambos os agentes (o Estado e um cidadão comum), dentre as coisas que o indivíduo deseja fazer no Estado, há uma limitação clara de ação. Outro exemplo é uma hierarquia de poder entre empregador e empregado, em que o empregador possui um poder de força maior do que o empregado por uma série de motivos (contatos, dinheiro, influência dentro da empresa). Assim, quanto ao poder coercitivo, analisa-se quem possui mais capacidade de coagir os demais agentes e, consequentemente, define-se quem necessita de uma proteção maior.
Poder de decidir agenda
É quando algo ou alguém possui a capacidade de definir o que se fala e o que chega à pauta pública. Um exemplo disso são os partidos políticos, em que alguns mais numerosos e influentes possuem maior capacidade de controlar o que será votado no Parlamento / Congresso, pois são os responsáveis por propor projetos de lei. Isso significa que eles controlam o que está em pauta e o que vai se tornar uma questão política ou não. Outro exemplo é o poder que advém de personalidades famosas (artistas literários, cantores, atores, líderes religiosos, líderes revolucionários, movimentos sociais, etc…) que possuem a capacidade de influenciar a opinião pública e trazer à tona determinadas pautas (e ocultar outras). Isso, inclusive, interfere na definição da influência que o agente possui sobre os demais indivíduos.
Níveis de análise do ator: alto e baixo:
Para entender os diferentes níveis de análise dos atores, tenhamos em mente debates envolvendo países em conflito, como Ucrânia e Rússia, e podemos perceber que há uma tendência em focar em um nível baixo de análise dos atores: Em uma análise rasa dos atores, costumamos pensar quem são esses países, como eles interagem com o mundo e como deveriam interagir uns com os outros. Entretanto, esse nível de análise implica na perda da possibilidade de visualizar diversos outros tipos de atores que estão em diferentes níveis de análise.
Assim, analisar de forma mais profunda esse conflito pode nos levar a pensar no povo ucraniano e russo de maneira genérica, ou no governo da Ucrânia e no governo da Rússia. Também podemos refletir sobre o que constitui o Estado ucraniano, considerando seu parlamento e sua composição diversa de partidos políticos, incluindo grupos pró-europeus e nacionalistas, entre outros. Isso também vale para a Rússia, que não deve ser vista apenas pelo governo central de Moscou, pois existem diferentes correntes políticas e forças locais que também influenciam as dinâmicas internas.
Assim você se afasta de uma argumentação simplista focada em apenas um nível de análise do ator e passa a adentrar todos as implicações dos atores e a multiplicar a sua análise.
Assim, Para defender melhor os interesses desse agente, leve em conta duas perguntas centrais quando se trata da influência da ação / escolha:
- Quais os efeitos práticos dessa ação para o agente? Como essa ação o beneficiaria? (argumentos pragmáticos)
- O quanto essa ação é importante para o agente? (argumentos principiológicos)
Em síntese, compreender as moções de agente exige mais do que identificar desejos superficiais: é necessário analisar com profundidade as motivações, limites, irracionalidades e a real capacidade de ação dos agentes envolvidos. Ao integrar diferentes níveis de análise e refletir tanto sobre os efeitos práticos quanto sobre a importância principiológica das ações, os debatedores constroem argumentações mais sólidas, estratégicas e sensíveis à complexidade dos cenários propostos.